Bruxaria: A Arte do Limiar

Bruxaria: A Arte do Limiar


(crédito da imagem de Loren Morris, do site Primitive Witchery. Ela também está no Etsy)

“Então o Pajé da tribo se aproximou da jovem Nheambiú e disse:
– Cuimbaé, seu grande amor, acaba de ser morto”. E a jovem moça
estremeceu, soltando gritos de lamento. Todos os presentes foram
transformados em árvores secas; a desolada jovem Nheambiú, foi
transformada em um Urutau, pousando pelas árvores secas,
chorando eternamente a perda de seu grande amor”.
(1)

 

          Não há como falarmos em bruxaria sem falar de inúmeras culturas e povos. Existem alguns nichos que defendem a bruxaria como uma espécie de “velha religião”, definindo suas práticas e as práticas alheias nos moldes de seus próprios parâmetros, como os adeptos das religiões neopagões que surgiram no último século (2). Não somente isso, analisando as últimas duas décadas, conseguimos ver um verdadeiro alvoroço quanto ao que deveria ser ou não a bruxaria. Inúmeros grupos e pessoas digladiando-se para provar sua legitimidade ou a legitimidade de suas práticas. Tantas brigas e confusões espalhadas por inúmeros lugares, sendo hoje em dia, a rede virtual abarrotada dessas brigas e cartilhas.

            A influência que os grupos neopagões tiveram, são apenas superficiais e apenas alcança meios em que as pessoas acabam por comprar suas ideias de “religião”, a fim de complementar seu Caminho, como se uma religião fosse exatamente aquilo que precisassem, justificando, dessa forma, que aquilo que fora encontrado é uma fórmula que servirá para todas as outras pessoas. Caso não sirva, deverá servir, afinal, essa pessoa não poderia (ou não conseguiria) enxergar que existiria outro caminho. Aqui encontramos os problemas clássicos de pessoas submissas, onde saem de uma igreja para tentar um Caminho mais livre e acabam por se cercar das mesmas amarras que tinham anteriormente, isso sem citar nas suas dependências ou vazios emocionais, precisando ter uma figura paterna (ou no caso, materna) que te trata da mesma forma que o Jesus da igreja: ele te ama acima de tudo e te perdoa por tudo que fizer. Bem, essa necessidade de fazer da bruxaria em si uma religião é apenas um ato desesperado de ter em mãos algo que não fuja dos próprios conceitos, dependências e amarras; é ter que continuar no mesmo lugar com uma roupagem diferente e, admitir que isso não seria “a verdade”, seria admitir que não se está num local diferente do anterior. Sim, é uma contradição bem óbvia, mas não cabe a nós discuti-la num nível mais profundo: deixemos isso para os psicólogos e psiquiatras.

            Em todas as sociedades e em todos os períodos existiram pessoas que fossem contra as leis e proibições de cunho religioso e social. Aprendemos desde pequenos que as leis são corretas e que todos devemos segui-la. Aprendemos que qualquer coisa que quebre essas leis é considerada muito errado e somos doutrinados a nos sentir mal quando fazemos algo que a maioria considere ‘ruim’, ‘errado’ ou ‘mau’. As doutrinações ocorrem em níveis diferentes desde que nascemos, sendo infelizmente o doutrinamento moral/religioso nos nossos dias uma imposição cristã. Cada sociedade possui suas formas de doutrinamento e é aí que entra a bruxa.

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